quarta-feira, 3 de março de 2010

II Natal com Jazz: Edição 2009



Fazer esse evento me proporcionou um contato de verdade com a produção cultural. Foram inacreditáveis todas as experiências da noite.

Primeiro por que era uma coisa que queria fazer a muito tempo. Pude ter contato e me aproximar mais de músicos da cidade que já faziam Jazz desde que eu ainda cantava em banda cover do Led Zep. Reunir bandas como nèctar do groove e burro morto numa só noite, e ainda por cima se tratando de uma noite totalmente atípica (até então para os padrões de João Pessoa), como o Natal. Foi Lindo!

Conheci Manu na ida pro Garanhuns Jazz Festival de 2009 e lá, praticamente confirmei meus planos de ser produtor cultural e ainda por cima trabalhar por algo pelo que a cultura de minha cidade precisa. João Pessoa precisava de Jazz.

Ela fez a edição de 2008, no espaço Maresia (lindo local a beira mar de uma das praias que mais adoro, o Cabo Branco), com o Burro Morto e o Aerotrio. Simplesmente, bombou!!
Depois da ceia não tem erro, o clima de confraternização que começa com a familia - ou dá pausa, por vezes - merece continuar com os amigos - por vezes a verdadeira família.

Não pretendia fazer a edição de 2009, atribulada com outras coisas. Decidimos fazer e foi aí onde eu vi no que me meti.

O local era a Intoca. Casa de shows que já recebera rocks homéricos de madrugada inteira e casa cheia. Com uma linda vista do rio Sanhauá ao amanhecer, abrigando um clima de proximidade e calor humano, favorecendo os festejos e celebrações.
Conseguimos fazer lá depois de tentar fazer em outro local da cidade, pois acho que uma das caracteristicas do jazz em João Pessoa é integrar toda a cidade, ao invés de segmentar partes dela. Com isso, sabíamos que o público seria outro, ainda que não mudasse muito o perfil, mas em se falando de predominância.
Não que isso fosse algum problema. Era justamente o público que nós queríamos. As pessoas que realmente sabem aproveitar uma festa, fazendo muita história nela pra contar depois.
Será que o pessoal vai sair de suas casa depois da ceia chata com a família e se deslocar pro centro numa noite em que DE FATO não há ônibus na cidade?

Eram quase meia noite e já havia uma concentração de pessoas nas escadarias e no largo de São Frei Pedro Gonçalves que anunciava: hoje vai ser festa das boas!
O pessoal foi chegando, entrando, se acomodando. A casa estava decorada de modo diferente, tinha algo especial na velha boate Intoca.

As 01:20h da manhã o Cabeça de Galo começou a tocar. Com um público tímido, a banda se apresentou decentemente, mesmo com falhas (humanas) na iluminação do palco, que permaneceu escuro (apenas as luzes de fundo acesas) durante toda a apresentação.
Depois soube o porquê da falta de público na apresentação da primeira atração. A malabarista contradada acabava de derramar querosene na lataria de um Ford Ka, em frente a casa de show.
Por um minuto pensei que as pessoas realmente tiveram mais entretenimento com aquilo do que com o show de uma banda iniciante. Porém, brincadeiras a parte, foi uma situação bem desagradável (o fogo no carro).






As 02:00h o Néctar do Groove subia ao palco para se preparar.



Uma banda que eu realmente admiro e acho que carrega demasiadamente bem a bandeira do Jazz aqui na capital. Vê-los tocando em uma festa que eu produzi me deixou orgulhoso e muito feliz. Realizado.
Quando o pessoal achou que a apresentação dos caras já estava mais do que no ápice, eis que sobe ao palco o verdadeiro show do néctar.
A tarde quando vi que Larissa (Chico Correa & Eletronic Band) passou o som com a banda, percebi que a noite não seria especial apenas pra mim e não seria apenas para o público. A noite era motivo de celebração também pro Néctar do Groove, que subia ao palco com uma convidada mais que especial.
Ela cantou e improvisou belíssimas vocalizações, assim como já o tinha feito em algumas músicas do único EP que a banda gravou. Foi divino!

Em todas as apresentações e durante todo o evento, as pessoas eram bombardeadas por insights de criatividade. Entre as bandas, Spencer fazia a projeção de alguns videos e imagens que, no mínimo, faziam você parar e pensar um pouco.



Algumas vezes no meio das apresentações, Marina - nossa outra artista malabarista - mostrava o que era, de fato, brincar com o fogo.



Adoro festas que ofereçam outros entretenimentos as pessoas. Confinar mais de trezentas pessoas num espaço só, entre quatro paredes, sem oferecer algo mais lúdico ou ao menos cigarros, era demais. A intoca fica melhor de casa de show do que de hospício. Não tive tempo de conferir os cigarros, mas pelo menos os outros atrativos rolaram.

Não tivemos tempo de pré-produção para captação, então o show tinha que ser feito 'natora'. Cara, coragem e a confiança de que João Pessoa consome boa cultura mesmo em datas pitorescas para eventos, foram necessários em demasia para levarmos essa loucura a diante.

O clima permanecia tranquilo e ao mesmo tempo agitado. Todos perguntavam quem era a próxima atração, mas em silêncio, já sabiam a resposta. Pra fechar uma noite perfeita, Burro Morto.



O céu já não estava de todo negro quando os primeiros acordes do burro foram lançados ao espaço sonoro da Intoca. Era a "quintura" perfeita pra quem já estava fervendo.
Acho que a noite, a festa, as lindas pessoas ali, estavam tão finas quanto a música que foi apresentada por esse grupo fenomenal. O desfecho perfeito, a instiga certa.



Um erro de interpretação do release por parte da mídia afirmava que o Burro Morto iria disponibilizar o novo álbum "Baptista Virou Máquina" na noite do show. Quando essas coisas acontecem você percebe a lombra da comunicação e da capacidade de se trabalhar entre humanos.
Mesmo assim eles fizeram uma apresentação impecável.
Uma coisa que acho que aprendi vendo tantas apresentações desses meninos, é que muito depende do clima na hora em que se vai fazer o show. A interação do grupo, as energias do ambiente, tudo isso faz com que as execuções saiam mais ou menos trabalhadas em cima do palco.
Tudo estava ótimo, salvo os problemas corriqueiros com o técnico de som e o difícil acesso ao palco para suprir as necessidades de camarim da banda enquanto tocavam, o show do Burro Morto no Natal com Jazz foi massa!

A execução foi ótima, o nível de qualidade a que conseguimos (todos os que fizeram parte deste processo) deixar o som supriu a demanda da noite.
Todos dançavam e brincavam, celebrando um natal diferente.

Já era manhã na Intoca e em todo o lindo centro histórico de João Pessoa os pássaros anunciavam o feriado de Natal.
Todos ficavam estagnados com a visão que se tinha dos movimentos sincronizados das garças que corriam sobre o espelho d'água do Sanhauá.
Um "café para as massas" era servido no balcão do bar, com bastante frutas e amendoins. Coisas que as pessoas iriam adorar comer uma hora daquelas.
Os eventos na Intoca sempre tiveram esse diferencial marcante. Queria fazer algo que fosse assim. Nem anunciamos o café em panfleto algum. Acho que a surpresa deixou o começo do belo dia ainda melhor.



Após ter de resolver o último e mais importante de todos os estresses de um produtor cultural, que era a contabilidade que se é obrigado a fazer após uma perfeita noite exaustiva, meu corpo transmitia sinais que minha mente me enviava.
Tive uma crise alérgica - até hoje suspeita como psicossomática, mas em parte por causa das experiências omissas desse texto na noite- que me deixou altamente sequelado no dia seguinte. Tratar com as pessoas nesse final não foi algo muito legal de se fazer.

Na saída da Intoca, uma parada para acompanhar o que seria a última tragédia da festa, a chave de ouro (de tolo). Uma garota bêbada deve ter tropeçado em algum lugar e caído. Acabara em cima de uma mesa com vários pontos de sangue sob sua face e seu corpo. Boca inchada, orelha. Até certo ponto, acho que ela deve ter aproveitado bastante a festa.

Se não fossemos embora dali naquele momento, provavelmente eu iria ser a proxima tragédia do Natal com Jazz.

Pra mim o evento foi espetacular, maravilhoso.
Pra muitos houveram falhas. De produção, de execução, de planejamento. Aprendamos com isso, para que tudo só venha a melhorar.

João Pessoa estava precisando desopilar. E precisa disso sempre.
Tem muita gente na cidade que sabe apreciar uma boa festa, com tudo o que ela tem direito. Pena não haver mais pessoas que saibam como providenciar essa festa.




Fotos: Rafael Faria

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